October 16, 2007

A união da morte

Passeava Sozinha, onde estiveram juntos, agora restava a solidão dos braços caídos na esperança de um abraço prometido. Derrotada pelo tempo como folhas verdes que pintavam o céu agora num chão sangram pela terra, tal e qual o seu sorriso que sangra numa alma. Na esperança que voltasse observava a rua por aquela pequena janela, mesmo sabendo que seria impossível (maior cego é aquele que não quer ver) mas... esperava por quem amava. Acordava como adormecia, na tristeza do olhar que não vencia a rotina, levantava-se e vestia a roupa que tivesse mais à mão e andava perdida á deriva no mar de destroços de uma vida que ruiu. Acordava já com lágrimas derramadas por entre o corpo de saudade que feria-lhe por ser eterna. Antes tantas vezes sentira-se sozinha e hoje compreende que nada era se não um surto de felicidade e ansiedade por poder estar nos braços de quem esperava, ao contrário do vazio que hoje sente. Já tinha passado um ano, enquanto olhava pela janela à procura daquele que partiu, as flores caem-lhe sobre o mármore branco e seus joelhos na terra, um olhar para baixo e não para o céu como sinal de vergonha por um Deus que negou o último adeus... um abraço vazio naquela pedra fria que seu rosto mancha. O vento lentamente ergueu-se e afastou as flores do retracto, dos dois. Um tempo que quis recordar a felicidade em vez da tristeza. Foi insuficiente as lágrimas derramavam com mais força por sentir sem poder sentir. Afastou-se e seguiu caminho por entre a terra batida, com contornos de branco e de flores espalhadas como marcas de uma perda. Escondidos num templo construído ao ar livre onde a chuva escorre e arrasta as flores mas nunca a memória de quem permanece. Naquele dia, decidiu passear junto dos locais que fazem parte das inúmeras memórias, na esperança de sentir mais próximo, no entanto sentiu-o distante. Parou o carro em frente ao mar e...desejou sentir o abraço como aquele que sentiu no primeiro beijo. Para ela a certeza de sentir-se amada era a mesma, nada mudou e ao mesmo tempo tudo, sente a falta... nota-se num olhar sem destino. O mar revoltoso acorda e desenha a banda sonora de uma dor ainda não composta, uma melodia de vida que acompanha para sempre, desde o fatídico dia. Adormeceu com a cabeça encostada, ao volante, e a dor desaparecia no sonho de um novo dia, mas a ilusão esperava que a loucura tomasse conta dela, com o sentimento de culpa que carrega. Algo bateu no vidro, acordou sobressaltada e o seu coração em jeito de oração desejou que fosse ele, mas não o era, apenas alguém preocupado com a imagem de uma mulher deitada sobre o volante fez interagir. Nesse fim de dia falaram... ele também estava lá pelo mesmo motivo, (memórias) e ambos fizeram uma tertúlia de dores em frente aquela praia deserta, conversaram até um por do sol, recordaram os bons momentos e descreveram quem perderam da forma mais bela algo que há muito não faziam pois a dor não permitia. A noite já tomava conta do céu e ambos partiram em destinos separados de um destino unido.

Eu continuo na eterna tortura de quem já não pode sentir, encontro-me a narrar aqui de cima a tua vida, no desejo de seres feliz. Sei que essa dor é real e nunca deixarás de sentir no entanto prossegue, por mim... para nós. Nesse momento um sorriso inesperado surgiu... olhaste-me e uma lágrima caiu em alguém que não devia conseguir chorar.

Deixei-te numa eternidade que afinal não é assim tão distante.

André Henry Gris

2 comments:

Anonymous said...

Damnnnnnnnn!!! Bro fiquei sem palavras... Damn !!! Continua bro, estás no caminho certo. Aquele abraço do outro lado do Oceano. Kenzo

Julieta Ferreira said...

Vim dar uma espreitadela ao seu blog e gostei imenso da sua prosa poética. Na sua escrita transparece uma enorme sensibilidade; as palavras são habilmente usadas para transmitir emoção e levar o leitor a senti-las como se fossem dele. E quando o leitor se pode rever e identificar nas situações ou/e sentimentos descritos é porque a mensagem do autor é compreendida.
Um abraço.