Passeava Sozinha, onde estiveram juntos, agora restava a solidão dos braços caídos na esperança de um abraço prometido. Derrotada pelo tempo como folhas verdes que pintavam o céu agora num chão sangram pela terra, tal e qual o seu sorriso que sangra numa alma. Na esperança que voltasse observava a rua por aquela pequena janela, mesmo sabendo que seria impossível (maior cego é aquele que não quer ver) mas... esperava por quem amava. Acordava como adormecia, na tristeza do olhar que não vencia a rotina, levantava-se e vestia a roupa que tivesse mais à mão e andava perdida á deriva no mar de destroços de uma vida que ruiu. Acordava já com lágrimas derramadas por entre o corpo de saudade que feria-lhe por ser eterna. Antes tantas vezes sentira-se sozinha e hoje compreende que nada era se não um surto de felicidade e ansiedade por poder estar nos braços de quem esperava, ao contrário do vazio que hoje sente. Já tinha passado um ano, enquanto olhava pela janela à procura daquele que partiu, as flores caem-lhe sobre o mármore branco e seus joelhos na terra, um olhar para baixo e não para o céu como sinal de vergonha por um Deus que negou o último adeus... um abraço vazio naquela pedra fria que seu rosto mancha. O vento lentamente ergueu-se e afastou as flores do retracto, dos dois. Um tempo que quis recordar a felicidade em vez da tristeza. Foi insuficiente as lágrimas derramavam com mais força por sentir sem poder sentir. Afastou-se e seguiu caminho por entre a terra batida, com contornos de branco e de flores espalhadas como marcas de uma perda. Escondidos num templo construído ao ar livre onde a chuva escorre e arrasta as flores mas nunca a memória de quem permanece. Naquele dia, decidiu passear junto dos locais que fazem parte das inúmeras memórias, na esperança de sentir mais próximo, no entanto sentiu-o distante. Parou o carro em frente ao mar e...desejou sentir o abraço como aquele que sentiu no primeiro beijo. Para ela a certeza de sentir-se amada era a mesma, nada mudou e ao mesmo tempo tudo, sente a falta... nota-se num olhar sem destino. O mar revoltoso acorda e desenha a banda sonora de uma dor ainda não composta, uma melodia de vida que acompanha para sempre, desde o fatídico dia. Adormeceu com a cabeça encostada, ao volante, e a dor desaparecia no sonho de um novo dia, mas a ilusão esperava que a loucura tomasse conta dela, com o sentimento de culpa que carrega. Algo bateu no vidro, acordou sobressaltada e o seu coração em jeito de oração desejou que fosse ele, mas não o era, apenas alguém preocupado com a imagem de uma mulher deitada sobre o volante fez interagir. Nesse fim de dia falaram... ele também estava lá pelo mesmo motivo, (memórias) e ambos fizeram uma tertúlia de dores em frente aquela praia deserta, conversaram até um por do sol, recordaram os bons momentos e descreveram quem perderam da forma mais bela algo que há muito não faziam pois a dor não permitia. A noite já tomava conta do céu e ambos partiram em destinos separados de um destino unido.
Eu continuo na eterna tortura de quem já não pode sentir, encontro-me a narrar aqui de cima a tua vida, no desejo de seres feliz. Sei que essa dor é real e nunca deixarás de sentir no entanto prossegue, por mim... para nós. Nesse momento um sorriso inesperado surgiu... olhaste-me e uma lágrima caiu em alguém que não devia conseguir chorar.
Deixei-te numa eternidade que afinal não é assim tão distante.
André Henry Gris
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2 comments:
Damnnnnnnnn!!! Bro fiquei sem palavras... Damn !!! Continua bro, estás no caminho certo. Aquele abraço do outro lado do Oceano. Kenzo
Vim dar uma espreitadela ao seu blog e gostei imenso da sua prosa poética. Na sua escrita transparece uma enorme sensibilidade; as palavras são habilmente usadas para transmitir emoção e levar o leitor a senti-las como se fossem dele. E quando o leitor se pode rever e identificar nas situações ou/e sentimentos descritos é porque a mensagem do autor é compreendida.
Um abraço.
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